Colaboração de José Marins.
Meu parceiro de criações e atividades haicaísticas, Sérgio Francisco Pichorim, é um poeta em tempo integral. Colecionador de vivências do cotidiano, ele vive o haicai, sua opção literária. É um estudioso que busca a compreensão do haicai na construção de um conhecimento que aparece na habilidade com que realiza seus poemas. Além de doutor em física-eletrônica e professor da UTFPR, ele é um viajante, o seu passatempo preferido e mais enriquecedor, do qual registra momentos haicaísticos preciosos, sempre junto de suas três meninas, a companheira Luciana e as filhas Iara e Maira.
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José Marins - Como você conheceu o haicai?
Sérgio Pichorim - No começo na década de 1990 eu li um livro sobre espiritualidade e militância do teólogo Leonardo Boff, cuja contra-capa trazia:
"não sigo o caminho dos antigos, busco o que eles buscavam".
Assim, conheci Basho. Não o tinha ligado ao universo do haicai, ele era somente um monge zen-budista. A frase ficou.
Em 1998 gostei de um livreto de poesias de Helena Kolody, nele havia alguns haicais. O glossário continha uma pequena explicação sobre haicai e tanka. Deste modo fui apresentado à esta forma de arte!
Não existiam o Google e outras ferramentas de busca, já funcionava o CADE.COM (cadê), onde encontrei o Caqui. Quando entrei pela primeira vez nesta revista de haicai, foi como se tivesse chegado a um paraíso, todos os textos, as explicações, os detalhes me interessaram. Imprimi tudo e devorei os textos.
Comecei a escrever e a olhar o mundo ao redor com outros olhos, mais atentos! Mas, estudar e escrever tercetos não era suficiente, queria ler comentários, críticas e sugestões. Foi quando conheci a pessoa prestativa do Edson [Iura] que me deu conselhos e me convidou para o fórum Haikai-l. Foi a minha sala-de-aula virtual, tudo aprendi ali.
JM - Nota-se no seu haicai uma sensibilidade para os fatos cotidianos junto à natureza aliada a um apuro técnico. Como você realiza o seu haicai?
SP - Sou um profissional das ciências exatas, mas a natureza sempre esteve presente em minha vida. Meus avós foram camponeses e jardineiros. Cresci em chácaras e sítios ao pé da Serra do Mar. Caminhadas na mata, escaladas ao pico Marumbi e ao Anhangava e banhos de tanque foram uma constância. Nunca fui um cidadão urbano pleno, e espero nunca ser! Aliado a isso, sou franciscano por devoção, e tenho uma veia mística, contemplativa (sempre busquei Deus no silêncio e na natureza), admiro a vida monástica.
Acho que tudo isso se somou e fez ressonância com o haicai.
Sou um ser que não se pode dividir em compartimentos. Vida profissional, social, religiosa, familiar, política, passatempos tudo se mistura. É tudo isso o substrato que levo para dentro do haicai.
Politicamente sou de esquerda, socialista, cristão vermelho da teologia da libertação, ou seja, nada conservador! Entretanto, minha personalidade é extremamente conservadora: gosto do antigo, dos museus, do tradicionalismo gaúcho, de CTGs, cantigas polonesas de meus avós, e, é claro, das artes milenares nipônicas.
Isso deixa claro que as regras clássicas dos velhos mestres do haicai, o domínio e o respeito às técnicas (a inclusão do kigo, p. ex.), são importantes no meu haicai.
A métrica é também importantíssima, mas, em particular, tenho uma bronca com o sistema adotado para o haicai em português. A contagem das sílabas até a última tônica do verso é muito ocidental e nada ter a ver com a contagem clássica japonesa.
Defendo a ideia da fidelidade ao original, ou seja, a contagem de TODOS os sons, inclusive os silêncios, como os kireji. Ainda não me disciplinei em fazê-lo... Acho que terei que me rebelar contra mim mesmo primeiro!
JM - Gostaria que comentasse sobre a sua produção haicaística: os livros, as palestras, os prêmios, sem deixar de falar sobre os deliciosos "haicais animados".
SP - Participei dos Encontros Brasileiros de Haicai. Nos 14º. e 15º., 2002 e 2003, fui contemplado com o 1º lugar no Grande Desafio (concurso de haicai). Eu me orgulho deste feito, pois até hoje ninguém venceu este desafio duas vezes! Eu guardo estes encontros com carinho na memória pois neles eu conheci os meus mestres e guias, como o Goga, Edson, Handa, GuinGa, Franchetti, Celso, Teruko, Alice, Carol e muitos outros amigos. Nos útimos anos tenho participado de encontros de haicais nacionais, regionais e locais, onde tento ajudar no júri e com palestras. E venho fazendo um renga, sem regras e tempo para terminar, com José Marins, que há alguns anos se tornou um blog: http://fieiradehaicais.blogspot.com/
Em 2003 fiz uma coletânea de meus haicais em um livro de tiragem restrita, o Bem Te Vi. Em 2004, em parceria com o haicaísta José Marins, publicamos o livro de rengas, Pinha-Pinhão Pinhão-Pinheiro. Em 2006, publiquei o livro Che Paraná Porã com meus haicais, ambos pela Araucária Cultural. Em 2007 participei das coletâneas Artez vol. VI, e Haikais pelo Museu da UFRGS. Em 2008 fui um dos vencedores do I Prêmio Literário Canon de Poesia, e em 2009 da coletânea de poesias de São José dos Pinhais-PR, onde moro.
A internet, é uma ótima ferramenta de divulgação da arte do haicai. O meio eletrônico possibilita a criação de haigas (texto+pinturas) modernas. Ou, como eu chamo, "e-haicais", os GIFs animados, com vídeos, com sons wav, interativos onde o click do mouse faz parte do poema. Para verem alguns exemplares, entrem no meu site: www.site.pop.com.br/pichorim
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Haicais de Sérgio Pichorim, presentes no livro Che Paraná Porã:
O trem vai sumindo
entre túneis e montanhas.
Ouço os tucanos.
El rio Paraná.
Las águas de mi jardín
pasan aqui.
Um leque nas mãos
da bailarina de Odori.
Borboleta em voo.
Minutos de êxtase.
O nascer da lua cheia
sobre a cordilheira.
Até o sabiá
renovou o seu cantar.
Sigo meu caminho.
A igreja distante
e os seis toques de sino.
Sorvo o meu mate.
Tarde de outono.
A velha casa de madeira
já foi semente.
As vagens abertas.
O ipê lança suas sementes
ao vento que passa.
Domingo gelado.
Nos balanços do parquinho
apenas o vento.
Primeira geada.
Quase tinha me esquecido
desta alegria.
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Contato: pichorim@utfpr.edu.br
O Pichorim eu conheci no blog Fieira de Haicais. Muito bom! E recentemente pude ler o livro de rengas Pinha-Pinhão e Pinhão-Pinheiro, que também é fantástico.
ResponderExcluirDe pouco em pouco a gente vai conhecendo as maravilhas deste gênero.
Parabéns por todas as conquistas, Pichorim, e que venha outras!
ótima entrevista!E Parabéns pelo blog q vem nos mostrando um trabalho antes esquecido!
ResponderExcluirConheci o Pichorim, primeiro, através do livro de renga: Pinha pinhão, pinhão pinheiro, que me foi enviado pelo José Marins, a quem também conheci, na ocasião. Depois nos encontramos no 17º Encontro Brasileiro de Haicai quando fui classificada em 1º lugar e ganhei dele outro exemplar do Pinha, pinhão. Depois nos encontramos em mais duas edições do Encontro. Numa delas ele apresentou a palestra "Nossos seis sentidos" uma beleza de trabalho, no qual passou aos presentes sacolas com pétalas, pó de café, ervas aromáticas, etc. para lhes despertar a sinestesia através do tato, olfato, visão etc.
ResponderExcluirPichorim, parabéns pelos seu trabalho haicaístico.
Um abraço
benedita Azevedo
Meu sobrinho querido!
ResponderExcluirPresenteou-me com seus livros onde ele se revela um sábio e de muito bom gosto!
PARABÉNS, Sérgio e obrigada por você ser essa pessoa tão sensível e INTELIGENTE.
Beijão!
Tia Clarisse.
Excelente trabalho!
ResponderExcluirParabéns!
Pichorim, Amigo,
ResponderExcluirno Caminho do Haikai
Você me passou à frente...
Guin Ga