Para escrever haicai é preciso observar objetivamente o mundo: sem julgamento de valor, abstrações intelectuais ou enfeites poéticos.
É necessário ver a Natureza como ela é, neste instante. Notar que tudo é impermanente e anotar a experiência de estar presente.
É preferível não escrever sobre nós (nossas ideias ou sentimentos), mas sim sobre aquilo que atrai a nossa atenção.
O ideal é mergulhar nele com uma mudança de consciência, já que para praticá-lo, primeiramente devemos nos afastar do Ego.
Para expressar uma emoção, não falamos dela, utilizamos um correlato objetivo.
Correlato objetivo é uma expressão cunhada por T. S. Eliot, é quando usamos uma situação e/ou um conjunto de fenômenos para evocar a emoção pretendida.
Quietude --
O barulho do pássaro
Pisando em folhas secas.
[Ryushi]
Você fala de si descrevendo o outro. É um exercício de identidade na alteridade. Não há paradoxo nisso, é uma atitude de compreensão, integração com aquilo que nos cerca.
Aí está um ponto a ser observado, que pode gerar uma grande mudança em tudo: o respeito. O respeito àquilo que nos cerca é fundamental no haicai.
"Ao captarmos os seres como valor intrínseco, surge em nós o sentimento de cuidado e de responsabilidade para com eles a fim de que possam continuar a ser e a coevoluir." -- Leonardo Boff
Portanto, o haicai pode mudar o mundo. Seus praticantes, quando imersos na prática desta poesia, mudam a si mesmos e transformam suas relações: o primeiro passo...
Referências:
Introduction to Hokku - David Coomler
O Zen e a Arte do Haikai - Rodrigo de Almeida Siqueira
Respeito a todo ser, à Mãe-Terra - Leonardo Boff
Muito bonito; e simples -- simplicidade de arqueiro, companheiro.
ResponderExcluirJá me sinto outro - isso é alteridade...
ResponderExcluir