sexta-feira, 8 de outubro de 2010

Haicais de Carlos Fleitas

Eu tenho uma mania de ser curioso. Gosto de ouvir histórias, conhecer outros pontos de vista, um novo jeito de fazer algo que já conheço. Foi assim que acabei conhecendo os haicais de Carlos Fleitas, buscando conhecer algo novo no universo do haicai. Quem diria, estava aqui ao lado.

Carlos Fleitas nasceu no Uruguai e, ainda hoje, mora ali, em Montevidéu. Além de haicaísta, também escreve outros tipos de poemas, além de prosa e ensaios, tanto em espanhol quanto em inglês. Sua obra literária está publicada somente na internet.

Adorei a descoberta. Não sei exatamente se é da língua espanhola ou sua maneira de escrever, os seus haicais me soam musicais, uma melodia suave e caliente:

luna llena
la luciérnaga al verla
se apaga

Tentando manter esta sonoridade, traduzo assim:

lua cheia
ao vê-la se apaga
o vagalume

Não sou de comentar muito sobre haicais (geralmente não passo do gosto-não-gosto) e não encontrei tantas informações biográficas sobre Carlos Fleitas (ele é casado, tem uma filha e é Diretor da seção em espanhol do site World Haiku Club).


Carlos Fleitas e família. Foto tirada do site MU Haiku.

Por isto, vou compartilhar mais alguns haicais de Carlos Fleitas que adorei e traduzi. Ei-los:

ao amanhecer
o grito da gaivota
corta a névoa

janela aberta
em meu travesseiro
o céu de outono

outro ano mais
os perfumes dos jasmins
ao pôr-do-sol

chuva noturna
acompanhado pelas gotas
o insone

prazeres simples
o aroma de lavanda
e um gole de chá

Como nem tudo são pérolas, deixo aqui também deslizes. Ele chama de Haicais pela Paz, são bons tercetos, mas não diria que são haicais. Veja:

mísseis
milhares de pombas
em seu lugar

granadas
flores de ibisco
em seu lugar

metralhadoras
chuva sobre o telhado
em seu lugar

guerra
partidas de xadrez
em seu lugar

Se interessou? Visite o site dele. Há vários artigos sobre haicai e cultura oriental: http://usuarios.netgate.com.uy/carlosfleitas/

4 comentários:

  1. Show, apesar dos haikais pela paz não serem considerados haikai por você, frisemos a intenção dele.

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  2. Seria bom se a intenção bastasse. Haicai não tem nada a ver com proselitismo poético. O jeito de um haicaista falar de paz é outro. Eu prefiro haicais mesmo, como os do grupo do "céu de outono".

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  3. Sim, sim, a intenção dele foi boa nos Haicais pela Paz. A defesa que ele faz destes tercetos é que os haicais são uma "reverência à vida", mas aí vem a questão também do modo de reverenciar... e nisso, ele falhou como haijin.

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  4. Eu adoro seguir teu Blog porque é aqui que busco minhas informaçoes e me atualizo. Obrigada por mais esse post. Beijos.

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