quarta-feira, 14 de julho de 2010

PANORAMA DO HAICAI NACIONAL: Alice Ruiz

Alice Ruiz escreve desde menina, contos e poemas. Mais tarde, descobriu que também fazia haicais e, então, mergulhou de vez nesta forma poética: estudando, escrevendo e traduzindo várias obras de haicaístas japoneses.

No mês passado descobri que ela viria no Festival de Leitura Internacional de Campinas, foi onde a vi pela primeira vez. Aproveitei para pedir a ela, além de fotos e autógrafo, pra fazer parte deste Panorama. Aceitou, mesmo vivendo num "tempo sem tempo".

Quem ganha somos nós, confira!

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Rafael Noris - Como você conheceu o haicai?

Alice Ruiz - Comecei a fazer haikai muito cedo, antes mesmo de conhecer o haikai. É que sempre tive uma personalidade meio contemplativa e a natureza é minha mestra desde menina. Como o haikai é sobre ela, meus primeiros esboços de poesia já tinham algumas características do haikai, mesmo porque eram poemas curtos.

Mas o haikai com todas as suas regras só vim a conhecer mesmo em 1969 e desde então ele faz parte da minha vida.

RN - No FILC 2010, te fiz uma provocação e repito aqui, pois a resposta foi muito interessante: você divide os livros que publica em livros de poemas e livros de haicais. Haicai não é poema?

AR - Haikai é poesia. Isto é, é uma das formas possíveis da poesia. Mas tem características tão próprias que fica difícil para a estética ocidental considerá-lo poema.
No entanto, quando um haikai me acontece, me sinto no mais alto estado de poesia. Independente de ser ou não considerado poema aos olhos dos demais.
RN - Você dá oficinas de haicai há quase 20 anos. Como as pessoas tem acolhido o gênero nestas oficinas e quais são suas expectativas para o haicai nos próximos anos?

AR - Sempre há procura, às vezes até excede o número de vagas. E isso em todos os lugares que já me convidaram. Em várias partes do Brasil. Li, em algum lugar, que o Brasil só perde para o Japão em produção de haikais. E a julgar pela quantidade de gente interessada, é bem possível que seja verdade.

Quanto à acolhida, só corações e mentes abertas e dispostas.

Não tenho expectativas especiais quanto ao futuro do haikai, mas desconfio que só tende a aumentar o interesse geral, porque a concisão se faz cada vez mais bem vinda e até necessária, já que vivemos num tempo sem tempo.

Alice Ruiz e eu, no FILC 2010

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Haicais de Alice Ruiz:

basta um galhinho
e vira trapezista
o passarinho

névoa na estrada
à beira de um sonho
um trem para Praga

tarde cinza
toda azaléia
arde em rosa

pássaro morto
no meio da estrada
carros que voam

fim de tarde
depois do trovão
o silêncio é maior

amigo grilo
sua vida foi curta
minha noite vai ser longa

*** *** ***

Alice Ruiz S.

Poeta, letrista, tradutora, publicitária, professora de haicai.
Nasceu e vive em Curitiba, Paraná.
Publicou os livros de poemas: Navalhanaliga, 1980, Pelos Pêlos, 1984, Hai Tropikai (com Paulo Leminski), 1985, Desorientais, 1996, Conversa de Passarinhos (com Maria Valéria Rezende), 2008, Dois em Um, 2008, entre outros.
Publicou também uma história infantil, vários livros de tradução de poesia (inclusive um de haicais de Issa, em 1988), além de constar em várias antologias.
Tem parcerias musicais com Itamar Assumpção, Arnaldo Antunes, José Miguel Wisnik, entre outros.
Seu site é: http://www.aliceruiz.mpbnet.com.br

10 comentários:

  1. Muito bom...

    sou fã.

    siga:

    www.micropoetricidade.blogspot.com

    www.microcontos180.blogspot.com

    saudações literárias

    carlos antonholi

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  2. Parabéns pelo trabalho, Rafa. Quanto aos haikais da Alice - o do pássaro morto na estrada e carros que voam , p.ex. - são sempre um bom susto. Sinto que a natureza é o que melhor representa o inesgotável da imaginação.

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  3. Alice ruiz é um classico e um luxo!
    Vc é um cara de sorte.

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  4. Uau, que beleza de entrevista. Amamos Alice Ruiz...
    (Jiddu)

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  5. Rafael,

    Que bom que encontrei um apaixonado pelo Haikai. Vou lhe contar um segredo: há pouco tempo que eu curto esta forma poética. Antes eu não compreendia, não havia lido sobre o assunto e considerava uma forma poética pobre. Agora estou aprendendo cada vez mais a buscar e gostar de Haikais e com vc acho que vou aprender mais ainda.
    Sou professora e escritora de Literatura infantil, mas a minha grande paixão é contar histórias.

    Um abraço.

    =)

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  6. "[...]o Brasil só perde para o Japão em produção de haicais." Fico espantado com tal estatística, mas faço parte dela, pois estou finalizando meu primeiro livro a boa moda brasileira de ser fazer haicais. Parabéns camarada pela entrevista, você foi muito feliz nas perguntas e respostas da Dama do Haicai no Brasil. Paz, Amor e Harmonia.

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  7. Adoro a ternura da Alice.
    Adorei o post e tmb gostei muito do seu blog!
    Quem me ensinou a gostar de Haicais foi meu Prof de Criação Literária, na 8 série!

    Até Mais,
    Aline

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  8. Papo bom!
    Agradou-me deveras.
    Mas, for me, haiku é poema sim.

    Felicidades!

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  9. nossa tenho 12 anos e prentendo lansar um livro curto muito kaikais sou sua fã

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